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A Santa Casa

  • Foto do escritor: Carlos Fernando
    Carlos Fernando
  • 19 de fev. de 2018
  • 3 min de leitura

Atualizado: 21 de fev. de 2018


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Carlos Fernando Andrade

Arquiteto e Urbanista

Mestre e Doutor em Urbanismo



Conforme é apresentado no Guia de Bens Tombados do IPHAN, a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro é um Bem Tombado Nacional (BTN), alias um dos mais antigos, pois sua numeração é a de número 10, datando de 1938.

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Ainda assim, seu processo de tombamento resultou da inscrição conjunta de diversos prédios pertencentes àquela instituição, cuja característica comum era, tão somente, terem o mesmo proprietário, localizando-se, os prédios citados, em bairros tão distintos como a Glória e o Valongo.


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Neste sentido, o processo não determina a área de entorno da Santa Casa, valendo lembrar que, em 1938, o Morro do Castelo já havia sido arrasado, sendo curioso observar que um dos primeiros cortes feitos naquela elevação ocorreu, exatamente, para que se construísse o novo prédio da Santa Casa, que data de meados do século XIX. O formidável muro de arrimo erguido na ocasião, curiosamente, hoje em dia pode ser visto por trás, ou seja, pelo lado que continha a encosta do Morro.


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Nas duas fotos acima, podem-se observar trechos do muro de arrimo construído para conter a encosta do Morro do Castelo


A Evolução da Ocupação


O Hospital da Santa Casa da Misericórdia existe no Rio de Janeiro desde os primórdios da Colônia e por décadas foi seu único estabelecimento de saúde. Com o passar dos anos, o hospital foi se tornando um amontoado de edifícios, até que em 1838, dá-se o início a um plano de reformas e ampliação do hospital que, após 30 anos resulta no prédio que conhecemos atualmente, conforme se pode observar na foto de Marc Ferrez, datada de 1880.


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Trata-se de construção pavilhonar. O que determina a fachada, e que a foto de Ferrez destaca, possui inspiração neoclássica, evidenciada pela colunata do pórtico e seu frontão triangular, assim como aberturas emolduradas por vergas em arco pleno. Pavilhão semelhante, sem o pórtico, foi construído nos fundos do conjunto.


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Foto obtida da Internet


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Foto obtida da Internet

Dois pavilhões centrais, separados por pátios internos, dispõem de torreões de três pavimentos em cada vértice, e a capela, da qual a abóboda se destaca, encontra-se na parte central de um deles.

De acordo com a planta de Garnier, datada de 1852, que se pode ver abaixo, estes pavilhões centrais terão sido o embrião inicial, sabendo-se que a construção do pórtico só ocorre no final das reformas.


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Ampliação de trecho da citada planta de Garnier


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Vista da Ilha de Villegaignon

... o que pode ser comprovado na foto acima, de Victor Front, datada de 1858, destacando-se o conjunto já incrustado no Morro do Castelo, mas ainda sem a edificação posterior.


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Enquanto nesta vista aérea de Deroy, de 1899, os pavilhões já estão completos, embora a cúpula da capela esteja, visivelmente, localizada no pavilhão errado. É interessante notar-se que o morro do Castelo esteja intocado ao fundo, onde se fez o muro de arrimo, e a lateral onde aparecem cortes expostos, igualmente reconhecíveis nesta foto, seguinte:


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...onde se pode observar as casas ao longo da Santa Luzia, porém, nenhuma construção entre o prédio da Santa Casa e o morro.

E, finalmente, já na década de 1930, com a Esplanada do Castelo já executada e os terrenos demarcados ao menos na imagem abaixo, pode-se notar que não existem, ainda, prédios além do conjunto dos seis pavilhões já descritos.


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Foto obtida da Internet

A área de entorno

e as ocupações posteriores ao desmonte


Após o desmonte do Morro do Castelo, seguiu-se a criação de um novo arruamento.

Inicialmente projetado por Alfred Agache, foi bastante modificado nos anos que se seguiram.

A própria Santa Casa, no bojo do processo de tombamento faz gestões junto ao IPHAN para que a Prefeitura modificasse o traçado de uma das ruas, conforme se verifica na cópia da correspondência abaixo.


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Onde se pode ler que “convém que V. Ex. providencie, desde já, junto à Prefeitura Municipal, para que não leve a efeito a abertura de uma avenida projetada, que forçará, se levada a efeito, a demolição dessa Capela, justamente tombada como digna de figurar no patrimônio artístico nacional”.

A preocupação do então provedor parece legítima se considerarmos os desenhos iniciais para a urbanização da esplanada, contida no folheto de venda dos terrenos, e reproduzida, a seguir:


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Enquanto no detalhe, pode-se observar que a Santa Casa perderia os pavilhões dos fundos e parte da Capela. Entretanto, pode-se entender o que originou a rua lateral, que hoje é guarnecida por um portão.

Considerando-se, assim, que, efetivamente tal avenida não aconteceu, o traçado existente resultou em algo bem mal resolvido, transformando o quarteirão da Santa Casa, além de muito grande, bastante irregular, a ponto de haver ruas com convergências em ângulo agudo, ou transformando o antigo muro de contenção do Morro do Castelo, num paredão.

 
 
 

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