Tipo: Comercial
Cliente: MT Arquitetura/SEBRAE
Categoria de projeto: Supervisão de projeto de restauro e reconversão
Período: 2012
Para a revitalização do Solar Visconde do Rio Seco e da fachada dos imóveis vizinhos, em 2012, a URBANACON supervisionou o projeto executivo de restauração e determinou os procedimentos de restauro do mais antigo casarão da Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro – RJ.
O casarão foi construído, entre 1791 e 1796, por Antonio Pedra de Bittencourt, que também foi o responsável pela construção da quadra adjacente. Segundo o historiador Carlos Eduardo de Almeida Barata, esses casarões dividiram o local, conhecido na época como Campo de Lampadosa, principal ponto da cidade em expansão no final do século XVIII.
Com a chegada da família real, o casarão e as demais construções da quadra foram vendidos, em 1811, a Joaquim José de Azevedo, que ocupava o cargo de almoxarife da Real Casa das Obras e dos Reais Paços em Lisboa. Concomitante à compra, é realizada a obra em que o casarão ganha ornamentação neoclássica e se torna a residência oficial do Barão do Rio Seco até sua morte, em 1835.
Em 1836, é vendido por meio de um leilão público com toda a mobília e alguns objetos pessoais ao comendador José Ferreira Carneiro, que abandona o casarão por exercer um cargo político em Minas Gerais. É novamente vendido em 1851, dessa vez a Francisco Pinto da Fonseca, que aluga o local para o comerciante Augusto Carlos de Souza, responsável pela fundação do Club Fluminense, opção elegante e requintada de diversão para a alta sociedade carioca.
Depois da morte de Francisco Pinto da Fonseca, em 1865, seu filho mantém o aluguel do casarão até 1876, quando decide vendê-lo à Fazenda Nacional, para que o local servisse como sede do Ministério do Império, em frente à já estabelecida Praça da Constituição.
Após a proclamação da república, em 1889, o casarão passa a abrigar a Secretaria de Estado e Negócios do interior até 1930, quando então hospeda o Departamento de Trânsito do Distrito Federal e do Estado da Guanabara, chegando a abrigar por muito tempo o computador responsável pelo controle de toda a rede de sinais de trânsito da região central da cidade.
Com a transferência da capital para Brasília, o prédio entra em decadência até ficar abandonado na década de 1990, quando é tombado pelo IPHAN e pelo INEPAC. Atualmente, o casarão pertence à prefeitura e faz parte do programa Monumenta/BID – Cultura, projeto que visa a revitalização de monumentos históricos com a intenção de promover desenvolvimento econômico e social, que também contempla a Praça Tiradentes.
Hoje o complexo mais antigo da praça é o Centro de Referência ao Artesanato Brasileiro, pertencente ao Sebrae, com dependências para exposição, comercialização de objetos, auditórios e restaurante.
Baseado nesse histórico, a URBANACON, contratada pela MT Arquitetura, conduziu as reformas. Para as alvenarias internas e externas, após os resultados dos testes de percussão, usados para detectar internamente possíveis danos e fissuras, foi determinada a demolição dos revestimentos e aplicação de produtos hidrorrepelentes e antifúngicos. A empresa determinou a retirada cuidadosa das partes degradadas, além da limpeza para remoção de sujidades superficiais e de vegetação invasiva. Nas paredes internas, após a constatação da degradação completa das argamassas, determinou-se também sua remoção manual sem danificar as alvenarias.
Para as ornamentações da fachada previu-se a limpeza especializada das cantarias e adornos, a fim de se compreender o estado de cada componente antes de se prever as técnicas exatas para a necessidade de restauro. Nas pequenas fissuras indicou-se a injeção de argamassa para recompor o vão. Para degradações maiores, foi sugerida a contratação de mão de obra específica para moldagem e refeitura dos elementos esculturais componentes da fachada.
Também determinou-se o realinhamento dos vãos, fechando áreas abertas posteriormente, utilizando o material do local – pedra e tijolo –, bem como a substituição das esquadrias degradadas por peças feitas de cedro, seguindo o padrão das janelas e portas originais.
Para a pintura foi feita a prospecção da cor original e depois escolhida tinta à base de silicato de potássio, específica para restauração e conservação de prédios históricos, visto que as suas características físicas permitem alta permeabilidade entre a atmosfera e o reboco, permitindo a difusão do vapor e evitando umidade.
Para o telhado, escolheu-se manta asfáltica para impermeabilizar as calhas, além de sua reestruturação. Substituíram-se as telhas degradadas e também peças comprometidas do madeiramento do telhado, além da colocação de rufos entre as alvenarias e o madeiramento, especialmente nas paredes das fachadas da Rua Visconde de Rio Branco e da Praça Tiradentes.
A restauração dos gradis de ferro foi realizada considerando a remoção da pintura existente, seguida da retirada mecânica das oxidações existentes. Caso não fosse possível a restauração, previu-se a aquisição ou feitura de ferragens idênticas às existentes no local.
Na parte dos pisos, foi empregada a limpeza química branda dos ladrilhos hidráulicos, para remoção da cera e sujeira. Depois foi feita a obturação de pequenos orifícios com argamassa de cimento branco, cal aérea, pó de granito fino e pigmentos, de acordo com as cores originais das peças. Os pisos de madeiras remanescentes em bom estado foram mantidos, sendo substituídos por madeira tratada somente nas partes deterioradas.
Assim, as alterações levaram o Casarão do Rio Seco à sua melhor forma e viabilizaram a possibilidade de ser, novamente, palco de uma importante atividade social e econômica no Rio de Janeiro.