Tipo: Residencial
Cliente: : Cep 28 / NTS
Categoria de projeto: Supervisão de gerenciamento de obra
Período: 2014
A fim de garantir um bom andamento no processo de restauro, a URBANACON realizou a supervisão e o gerenciamento da obra da Fazenda Santa Eufrásia, localizada no município de Vassouras – Rio de Janeiro, em 2014.
Sendo economicamente mais representativo que o Ciclo do Ouro, o Ciclo do Café conferiu ao Brasil grande status econômico, colocando o país como o maior exportador do grão do mundo em 1830. O Vale do Café, como palco desse período, teve grande desenvolvimento e concentração de ricas propriedades pertencentes aos produtores de café. Segundo Stanley Sten, em 1890, Vassouras concentrava 205 unidades agrárias produtoras do grão.
A Fazenda Santa Eufrásia é um dos cenários dessa história. De acordo com a obra “Fazenda Santa Eufrásia – a Restauração de um Patrimônio”, ela era composta por todos os elementos que configuravam uma fazenda da época: a casa grande, a vivenda, o açude. Assim como as demais propriedades, procurava atingir o maior nível de subsistência dentro de seus limites. Fundada em 1834 pelo mineiro Ezequiel de Araújo Padilha, que a batizou em homenagem ao nome da mãe e da santa católica, a fazenda protagonizou longos períodos de desenvolvimento e estagnação em sua história.
Atingiu o auge de produção no período entre 1850 e 1870, quando Padilha investiu massivamente em produção e na infraestrutura da fazenda. Após sua morte, a família teve dificuldades para manter a produção e os gastos, chegando a hipotecar a fazenda em 1885, processo concomitante a falência do Vale do Café.
Após permanecer inativa até 1905, a fazenda passou a pertencer ao coronel Horácio José de Lemos, também natural de Minas Gerais, que estabeleceu uma criação de gado nas terras desvalorizadas da região. Sua neta Alzira Inglês de Souza, uma das herdeiras, assume as atividades da fazenda até a metade do século XX. Como não teve descendentes, deixou sua parte da fazenda para o Doutor José Werneck Machado Filho, médico tradicional da região.
O tombamento deu-se ainda quando Alzira Inglês de Souza recebeu a notícia de que sua fazenda seria cortada por um novo projeto de rodovia. A fim de evitar isso, deu entrada no processo de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico NacionaI - IPHAN, que por meio da análise do arquiteto Paulo Santos e de Augusto Carlos da Silva Telles, constatou a importância da preservação da propriedade.
O IPHAN concedeu o tombamento à fazenda em 22.01.1970. Nele estão inclusos ainda o Açude, o bosque e o acervo móvel.
Desde 2001, Elizabeth Dolson cuida diretamente da fazenda, e como forma de manter sua atividade, inclui-a no roteiro de turismo rural do Vale do Paraíba Fluminense.
Como resposta por conceder que os gasodutos da Nova Transportadora do Sudeste S/A – NTS passassem pela Fazenda Santa Eufrásia, o IPHAN determinou que a empresa se encarregasse do restauro das dependências da propriedade.
Com o projeto aprovado, a transportadora contratou a Construtora Biapó, para viabilizar as obras, e o Centro de Estudos e Pesquisa 28 – CEP28, responsável pelas pesquisas históricas, arqueológicas e geotécnicas que serviram de base para a restauração, que também contratou o escritório A Rede para desenvolvimento de desenhos técnicos. Em parceria com a construtora, a URBANACON realizou a supervisão do gerenciamento da obra.
O processo começou em 2013, quando foi firmado o contrato com o CEP28, a fim de iniciar a elaboração do projeto executivo, de intervenção e de restauro em todas as construções que compõe o complexo: a Casa Sede, a Cavalariça, o Armazém e o Açude. O trabalho foi estabelecido em duas fases: o primeiro com elaboração dos estudos e projetos executivos, e o segundo como gerenciamento das obras de intervenção e restauro.
Seguindo as etapas do projeto, inicialmente foi feito o levantamento do bem tombado, seguido pelo inventário dos móveis e, por fim, o levantamento arquitetônico das construções. Em seguida, realizaram prospecções geotécnicas, que antecederam a elaboração do projeto de pesquisa arqueológico, desenvolvido com o uso de georadar e lentas escavações, que descobriram louças e partes de móveis, ajudando a ilustrar a história da fazenda.
Além disso, também foram feitas prospecções arquitetônicas a fim de investigar as camadas de pinturas e de argamassas existentes nas edificações, para fornecer informações e compor o diagnóstico para início do projeto.
O principal ponto norteador do projeto foi o diálogo entre o planejamento de restauro, arquitetura e estrutura com a necessidade de novos usos aos espaços.
As fases do restauro foram semelhantes em todas as dependências. Primeiro, a remoção de intervenções posteriores à construção original, fossem paredes ou acabamentos. Depois, a montagem das tendas para cobrir as construções e impedir maiores degradações, seguido do escoramento das estruturas e o início da substituição de elementos danificados, principalmente tijolos, que foram trocados por novos, confeccionados especialmente para as construções. Nas paredes internas, o pau a pique foi refeito de acordo com as técnicas tradicionais. Por fim, a substituição, reforço e remontagem dos telhados, de acordo com normas técnicas eficazes e mantendo os parâmetros de restauro, feitura do novo emboço das fachadas com argamassa de barro e cal, além da pintura também a base do elemento.
Ficou constatado que a Casa Sede, onde se encontram os ambientes de maior relevância artística do complexo, era a edificação em melhor estado de conservação, apesar dos danos provindos do desgaste natural dos materiais e das infiltrações provenientes das constantes alterações no telhado.
Nas demais dependências, notou-se maior deterioração, até mesmo colapso da estrutura do Armazém, por exemplo, devido à maior diversidade de materiais, às constantes alterações feitas e à falta de manutenção ao longo do tempo.
No novo projeto, a estrutura do telhado de todas as construções foi revisada. Para a Casa sede, uma proposta de novas tesouras foi apresentada, sendo todo o madeiramento sustentado por estruturas em concreto armado, independentes da estrutura histórica.
Considerado como a construção em pior estado do complexo, o Armazém deteriorou-se nos últimos anos, chegando a quase ruir por completo. Dessa forma, as intervenções nesse edifício caracterizaram-se pela reconstrução baseada nas técnicas tradicionais e no partido arquitetônico do prédio.
Para a Cavalariça, a primeiro momento, foi planejada a total demolição para então ser reconstruída utilizando técnicas tradicionais. Porém, após o início do processo, constatou-se a presença de partes de parede de adobe maciço em bom estado de conservação, o que culminou nos escoramentos desses elementos e a reconstituição das partes além deles, bem como a produção de tijolos maciços específicos para a reconstituição das demais paredes.
Por fim, o Açude também passou por reconstituição. Foi esvaziado e teve reforço em suas estruturas.
Referência Bibliográfica
Fortuna, João Paulo. Fazenda Santa Eufrása: a restauração de um Patrimônio. 1 edição. Rio de Janeiro: Livros&Livros, 2019.
Fotos
Beto Felicio (fotos/photography)